
Você,
carnavalesco leitor, que vive pensando que cachaça é água,
tome cuidado. A história abaixo é real, aconteceu com
o amigo de um amigo meu.
Mas
poderia ter acontecido com você...
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Perdeu
a linha, né? Começou com uma cervejinha para rebater aquela feijoada carregada
no torresminho. Isso foi no sábado de Carnaval. Depois veio a
caipirinha, o conhaque, duas doses de tequila, um copo daquele negócio
rosa...
Seus olhos abrem lentamente. A luz machuca a retina e você dolorosamente
vai descobrindo que está no seu velho quarto. Sua esposa olha
para você com espanto, como se estivesse assistindo a um paciente
em coma despertar de seu sono profundo.
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A
amnésia Ela pergunta se está tudo bem. Seu cérebro ainda não
está funcionando muito bem. Você tenta lembrar como articular
a língua e os lábios para responder sem babar muito. Ajeitando-se
na cama, nota a televisão ligada transmitindo a apuração
das escolas de samba.
Como assim?! Seus neurônios pegam no tranco e finalmente você
consegue perguntar que dia é hoje.
Quarta-feira de cinzas. Já estamos na tarde de quarta e, por
mais que você tente lembrar, sua última memória
pertence ao sábado. Ou seria domingo? Enfim, certa mesmo só
a visão do copo cheio de um troço rosa ao lado da garrafa
de tequila pela metade. A lembrança dos outros dias sumiu no
limbo entre o consciente, o inconsciente e esse gosto bizarro na sua
boca.
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Eu
não sei de nada!
Ela limpa o suor da sua testa com um paninho. Você está com
tanta sede que poderia torcer e beber direto do paninho. Aliás,
você estava pensando seriamente nisso quando ela pergunta onde você
se meteu. Saiu no domingo com o pessoal para comprar mais cerveja e sumiu.
Apareceu dois dias depois, desacordado, na porta de casa.
- Não fui eu!
- Mas eu não perguntei nada, só queria saber onde você
foi...
- Mas não fui eu!
Perfeito, essa é a primeira regra da amnésia pinguça.
Negar tudo até o final. Negar tudo. Negar o final. Negar a negação.
Não! Não fui eu! |
Eu
não fiz nada! Se ela
perguntou é porque deve ter alguma evidência do crime escondida
na manga. Uma amiga gordinha e fofoqueira (toda mulher tem uma dessas)
que te viu com alguma outra mulher. Você nem lembra, mas a desgraçada
da amiga balofa nunca esquece. Seja lá o que ela perguntar, continue
negando.
- Sabe a Lígia, aquela minha amiga gordinha?
- NÃO! Quer dizer, hum... sim.
- Então, ela disse que te viu entrando num motel com outro homem
na segunda.
- NÃO FUI... Peraí, homem?!
- Homem.
Pois é. Antes de de negar para os outros é preciso negar
para si mesmo. Não pense nisso. Se você não conseguir
pensar é porque não aconteceu!
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E
se minha bunda estiver ardendo?
Ih, rapaz. Vamos terminar essa história por aqui antes que comece
a tocar "I will survive". |
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