Uma
pesquisa realizada durante 10 anos no Centro de Psicologia Aplicada de
Fenômenos Psíquicos e do Comportamento de Massachusetts (CPAFPCM)
aponta que livros de auto-ajuda surtem efeito apenas durante os meses
em que a pessoa está lendo o mesmo.
Segundo os
pesquisadores, os leitores tendem a encarar a vida de maneira positiva
devido à sugestão dada pelo autor na repetição
de chavões do tipo "você consegue", "você
pode", "é só você querer",
entre outras. Porém, depois que as pessoas terminam o livro, voltam
ao seu estado depressivo e suas vidas até pioram. Isso faz com
que elas retornem às livrarias e comprem mais livros.
"Funciona
como uma droga. Depois que o leitor em questão tem essa sensação
de melhora, começa a acreditar que só pode ser feliz lendo
algum livro do tipo e acaba comprando mais. Descobrimos pessoas que já
perderam fortunas nesse ciclo vicioso" - conta
o Dr. James Philong, psicólogo chefe do Centro de Psicologia Aplicada.
Apesar
de todos os casos documentados, a justiça nada pode fazer para
impedir a venda de livros do segmento que mais cresce nas prateleiras
do mundo inteiro. Os dados da associação de editores
de Nova Iorque, uma das mais conceituadas do mercado, apontam esse crescimento:
o primeiro livro de auto-ajuda possuía apenas 50 páginas,
agora a média é de quase 200, sendo relatados livros de
auto-ajuda de 1700 páginas!
"É
um crescimento assustador, sobretudo se pensarmos que estamos vivendo
na era da informática. A tendência dos livros é serem
menores, mais concisos e objetivos. Afinal, a maioria das pessoas que
compram livros hoje em dia pretende distribuir seu conteúdo em
formato digital na internet e o excesso de páginas atrapalha esse
processo. Mas se os livros de auto-ajuda continuarem engrossando, teremos
livrarias com o dobro do tamanho atual em menos de 20 anos."
- revelou Arthur Hangberguer, porta-voz da associação.
Uma história triste
Mary Ellen,
enfermeira de 36 anos e mãe solteira de uma garotinha de 8 anos
(também solteira, graças a Deus), é uma das chamadas
"help addicted" (o que poderia ser traduzido como "viciada
em ajuda"). Depois que perdeu o seu marido em um shopping lotado,
Mary só voltou a encontrar forças para viver em um dos livros
do famoso e falecido Dr. Josehpy Murphy - irmão do ator Eddie Murphy
e autor de vários best sellers na área. Parte de sua vida
pode ser vista de maneira estilizada na comédia "Os
Picaretas" estrelada por Steve Martin e, é claro,
pelo irmão Eddie Murphy.
Porém,
apesar da ajuda que obteve na literatura, Mary Ellen passou a depender
totalmente dos livros de auto-ajuda. Em sua casa ela tem cerca de 2500
títulos, que somados a palestras, filmes e CDs formam um montante
de quase 200.000 dólares (50.000 só em livros). Detalhe:
Mary Ellen não possui casa própria ou carro. Mora junto
com sua irmã com quem divide os custos domésticos e acredita
que não poderá pagar uma boa escola secundária para
a sua filha, Stacy.
Mary
Ellen começou o tratamento com o Dr. James Philong há dois
meses e até agora não voltou a encostar em nenhum livro
de auto-ajuda.
"É
difícil. Só agora eu estou aprendendo a viver de maneira
independente, graças à ajuda do Dr. Philong. Essa terapia
é tudo para mim hoje e sinceramente não sei se conseguiria
viver sem ela. Às vezes caio em depressão quando vejo a
fortuna que gastei nessas coisas todas. E o pior, nem tenho coragem de
revendê-las pois saberia que estaria causando um mal tremendo a
outra pessoa." - desabafou Mary Ellen com o rosto cheio de lágrimas.
Um mal que atravessa os séculos
A
história de Mary Ellen não é muito diferente das
contadas pelas outras 39 pessoas que compõem o primeiro grupo de
ajuda à dependência de auto-ajuda do Dr. James Philong.
Apesar de o perfil ser quase sempre parecido, mulheres adultas e solteiras
- quase sempre mães e de renda média, no grupo é
possível encontrar pessoas de várias idades e classes sociais.
Pais que perderam filhos na polícia, pais que perderam filhos para
a polícia, jovens ambiciosos que buscavam nos livros um enriquecimento
fácil e obesos de todos os diâmetros.
A
literatura de auto-ajuda começou em 1859 com o livro intitulado
"Self-Help" que nomeou a categoria. O livro do médico
escocês Samuel Smiles (1812-1904) foi um sucesso de vendas. Numa
espécie de manual, o doutor ensinava à classe operária
como se unir para chegar ao paraíso do sucesso individual e utiliza
técnicas que ainda são consideradas eficazes no mercado
atual. Por exemplo, a lei número um do médico era "If
you want to be happy, belive in Smiles", um trocadilho inteligente
com o sobrenome do autor e a palavra "smiles".
Apesar de alcançar
uma vendagem razoável e um público fiel de viciados, os
livros de auto-ajuda só começaram a ganhar força
na segunda metade do século 20. Esse "boom" é
atribuído a diversos fatores: os hippies, os neo-hippies, os filhos
precoces dos hippies, as pessoas que acreditam em hippies, os familiares
dos hippies, a volta da moda hippie, os hippies da mídia e aqueles
caras estranhos que não tomam banho, deixam o cabelo crescer enquanto
fumam maconha.
O
leque de assuntos é variado com intuito de atingir os mais diversos
tipos de pessoas. Só engravida quem quer; Como colar no vestibular;
Diga não a maconha e mantenha os amigos; Ajude-se a se auto ajudar
a si próprio na língua portuguesa; O poder cósmico,
tântrico, emblemático, fantástico, mágico e
extra-sensorial dos seus cabelos; O diário de um talo; Mãe
rica, pai separado e cheio de dívidas; Quem mexeu na pasta "Meus
Documentos"; Moto-ajuda: saiba como cuidar da sua motocicleta; Faça
você mesmo e limpe-se por si só são exemplos de best
sellers da área. Como afirmam os próprios autores em entrevistas,
um bom livro de auto-ajuda é aquele que se auto-vende.
O que está sendo feito
Judicialmente é
impossível impedir que os livros de auto-ajuda sejam publicados
e vendidos sem gastar uma volúpia de dinheiro subornando júri,
juiz, advogados e todo o sistema cego que enxerga no escuro. Pela lei
de direito autoral, qualquer ser humano que saiba articular duas palavras
em conjunto tem o direito de se expressar intelectualmente e explorar
financeiramente a sua obra, desde que não seja racista, não
incite muito a violência e nem encha demasiadamente o saco do resto
da população.
Por
outro lado, existe uma maneira de abrandar a situação que
é descaracterizar essa espécie de livro como "auto-ajuda".
A estratégia dos seguidores do Dr. James Philong é apresentar
para a corte que se um sujeito necessita de um livro para se ajudar, não
é mais "auto-ajuda" e sim uma ajuda em conjunto
com o autor do livro. Portanto, eles sugerem que a categoria seja renomeada
para ajuda-coletiva. Parece uma mudança simples, mas o Dr. Philong
afirma ser importantíssima para que a pessoa não crie o
vínculo de dependência.
O resultado dessa
briga ninguém sabe - nem mesmo quem tenha lido algum livro de auto-ajuda
para videntes, mas a briga promete ser feia e certamente quem perder essa
batalha precisará de muita ajuda.
Uma pequena entrevista com o Dr. James Philong
O
Instituto Universal Brasileiro pode ser considerado auto-ajuda?
Claro.
Eles são uma evolução moderna dos livros de auto-ajuda,
pois fragmentam a ajuda em fascículos e obrigam o dependente a
receber doses periódicas de sua literatura. Quando a pessoa se
dá conta, já está com 20 revistas e se bobear ainda
ganha um diploma.
A
masturbação também é uma espécie de
auto-ajuda?
Sim
e não. Quando é uma masturbação parnasiana,
quer dizer, realizada de maneira clássica, utilizando apenas a
imaginação, ela é totalmente saudável. Agora,
quando o sujeito utiliza revistas, filmes, livros, internet, revistinha
em quadrinhos ou livros de ciências do segundo grau ele está
correndo um sério risco de se tornar viciado. Se o infeliz chegar
a comprar um CD da Preta Gil ele deve procurar orientação
profissional urgente.
Quais
são os sintomas de um dependente de auto-ajuda?
Ser fã
do Lair Ribeiro, gostar desses programas televisivos de receitas, decoração
ou qualquer outro do tipo "faça você mesmo". É
importante dizer para os pais que isso tudo começa na infância.
Se o seu filho gosta de programas iguais ao antigo "mãos mágicas"
da TVE, ou tem um Manual do Escoteiro Mirim, tome cuidado. Ele corre o
sério risco de se tornar um viciado.
O
que os familiares podem fazer para ajudar uma pessoa viciada em auto-ajuda?
Nada.
Minhas pesquisam vêm apontando, o que eu sei que é muito
feio e já mandei as pesquisas pararem com isso, que o primeiro
passo de um viciado para se curar da dependência dos livros de auto-ajuda
é ele próprio querer se ajudar. No meu livro "Você
pode parar de se auto-ajudar", eu ensino 10 técnicas definitivas
parar curar as pessoas desse mal.
O
senhor poderia ensinar alguma técnica para os nossos leitores?
Não.
Se eu disser e eles ficarem curados, ninguém vai comprar o meu
livro. E se eu não ganhar dinheiro com o livro, quem é que
vai me ajudar? Eu mesmo? Acho que não. Eu não acredito em
auto-ajuda.
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