
A
burguesia fede, é verdade. Mas ela tem dinheiro para espalhar seu
odor sem incomodar ninguém dentro de um carro importado. Você,
por outro lado, tem de agüentar aquela velha podridão no sacolejo
do ônibus só para chegar na porta da nova Daslu.
A
Daslu é loja de rico, uma espécie de Casas Bahia ao contrário.
Lá não importa “quanto você quer pagar”
desde que seja muito. Gentinha classe média como você, que
tem internet de banda larga e cartão de crédito com limite
da época do acesso discado, pode quando muito limpar o banheiro
dos empregados.
Agora,
se ainda assim você deseja romper as convenções sociais
e passar uma tarde dentro da loja mais superfaturada do Brasil (depois
da Câmara dos Deputados, em Brasília), sugerimos que siga
nossas dicas e aprenda, de uma vez por todas, a comer galeto com farofa
para depois peidar faisão.
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Rico só chora em novela mexicana
Sorria,
meu bem, sorria. Rico ri à toa, não importando o motivo. Pode
ser orgulho do filho que está comendo aquela modelo-atriz da estação
ou simplesmente excesso de botox nos músculos da face. O importante
é mostrar que a vida é uma festa para quem tem a grana do
convite.
Esqueça
suas preocupações mundanas com dívidas do cheque
especial, pensão de ex-mulher e o preço da cesta básica.
Essa tensão pode criar rugas na sua testa e isso é problema
típico de pobre. Mantenha com todas as suas forças um semblante
calmo e tranqüilo.
A única
exceção para essa regra acontece toda vez que inventam de
criar alguma CPI em Brasília. Sabe como é, rico pode ter
torneiras de ouro maciço no banheiro, mas nem por isso deixa de
sofrer de rabo preso, hemorróidas, caixa dois e outras moléstias
de fundo nervoso.
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A
arte de ignorar preços
Pesquisar preços ou simplesmente perguntar “quanto é”
fazendo cara de desconfiado é, como diria Justo Veríssimo,
hábito de pobre. Se você deseja passear pela Daslu e ainda
ser tratado de igual para igual deve aprender a não se assustar com
um, dois ou três zeros a mais do que o esperado na etiqueta.
Ao reparar
nos preços absurdos, mantenha a calma e o semblante feliz. Não
deixe o terror tomar conta do seu ser. Encare esse mundo de fantasia
onde uma cueca pode alimentar uma família de cinco pessoas por
dois meses exatamente como ele é: uma boa piada de humor nonsense.
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Ninguém
está só olhando
Se
uma vendedora abordar você, não comece com aquele papo suburbano
de “estou apenas olhando”. Guarde
esse expediente para quando estiver pechinchando roupa na feirinha. Na Daslu
ninguém perde tempo olhando. Tem que comprar e pronto. Afinal, para
isso que existem as marcas.
As
marcas são suas melhores amigas na hora de dizer o que é
realmente importante para a sua vida. Você pode não
saber pronunciar os seus nomes, de tão fashion e cheios de consoantes
que eles são, mas não duvide que são sinônimos
de qualidade ímpar, na maioria das vezes costurada artesanalmente
por imigrantes ilegais em algum porão do circuito Roma-Milão-Nova
Iorque.
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Sale - 50% off
Se você
por acaso decidir comprar algo e, por um acaso maior ainda, oferecerem algum
desconto, recuse. Seja educado, claro, mas firme em sua posição
de falso rico. Melhor
do que isso, só se você recusar o desconto e logo depois
fizer questão de pagar mais. Por educação,
a vendedora certamente recusará a oferta, mas seja firme novamente
e tire aquela onda de rico no estilo “pegue a diferença e
compre um presentinho para você, baby”.
Se,
como último recurso, você precisar fazer um pagamento parcelado,
não deixe de esclarecer que está fazendo isso somente porque
os juros são absurdos e o preço final da mercadoria será
muito maior. |
Disney
é viagem de pobre
Agora
que você já está no caixa e totalmente adaptado ao universo
de luxo e magia da Daslu, aproveite para esquecer que acabou de contrair
uma dívida de dez anos e comece a se divertir. Como
atividade recreativa, sugerimos que você aperte a bunda das madames
e passe aquelas típicas cantadas de peão de obra.
Como essas atitudes são marca registrada de gente pobre, levará
algum tempo até descobrirem o seu disfarce. Enquanto isso, seja
feliz como naquela sua viagem à Disney, onde contrariou a cartilha
de bom comportamento para brasileiros chutando o Pateta de um lado ao
outro do Epcot Center.
Tão
logo sua artimanha seja exposta, saiba que o expulsarão com violência
equivalente ao tamanho do abismo social que você tentou ignorar.
Aproveite, então, e processe a porra da loja na justiça.
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