Washington
Rodrigues, o Apolinho. Um homem que dispensa apresentações,
mas não uma boa comida. Considerado um dos mais ilustres
rubro-negros de toda a história, hoje apresenta o programa
"Show do Apolinho" (de segunda a sexta das 17:00 às
19:00 horas na Super Rádio Tupi) junto com o Robertão,
o robô-E.T.-anão, que mesmo sendo torto e de outro
planeta, faz mais sucesso com as mulheres do que os terráqueos
Timeleis.
TIMELEI:
O Robertão é um sucesso no Show do Apolinho, ele
é criação sua?
Apolinho:
É sim. Ele teve início na Rádio Globo, mas
era muito limitado nos recursos técnicos. Além disso,
o quadro que ele entrava era muito pequeno. Aqui (na Tupi) ele
criou alma, está mais livre, quer comer todo mundo, e fica
sacaneando o rapaz do trânsito (Hernani - o Barney). Outro
dia veio um rapaz da Estrela propondo fazer um boneco do Robertão.
Mas ele queria que o Robertão se controlasse mais, não
falasse palavrões e fosse um exemplo paras as crianças.
Recusei na hora, ele não queria o Robertão. Se o
Robertão não quiser comer todo mundo não
é o Robertão!
TIMELEI:
Você gosta muito de utilizar metáforas como "briga
de cachorro grande" e "globo da morte". De onde
elas surgem?
Apolinho:
Isso é uma característica minha, eu tenho mais de
100 expressões arquivadas que vão surgindo do meu
contato com a rapaziada. Eu lido muito com jovem, só trabalho
com jovem, para eu mesmo poder ir me reciclando. Não gosto
de ficar como aqueles caras que falam "no meu tempo era assim...".
TIMELEI:
A novela é uma outra paixão sua?
Apolinho:
Eu gosto de novela. Mas eu gosto de ver para sacanear. Porque
as pessoas ficam prestando atenção na história
e não notam quanta besteira que aparece. Outro dia apareceu
a mulher usando o mesmo vestido de vinte anos atrás. Minha
camisa de vinte anos atrás não entra nem no meu
filho.
TIMELEI:
O Flamengo hoje passa por umafase difícil, com várias
derrotas consecutivas e instabilidade política. Qual seria
a solução?
Apolinho:
Tem que arrumar dinheiro. Arrumando dinheiro para investir as
coisas entram no eixo. Não acho que o "impeachment"
do presidente seja a solução. Agora eles vão
montar um time de garotos porque não têm dinheiro.
Até agosto não existe previsão de investimento.
Assim fica difícil.
TIMELEI:
Que o Felipão não convoca o Romário nós
já sabemos. Mas você, que é amigo do Romário,
acha que ele convocaria o Felipão?
Apolinho:
Para técnico? Pouco provável. O Felipão não
se enquadra no perfil de treinador que o Romário gosta
de trabalhar. Eu acho que ele não convoca o Romário
porque não deixam, porque ele gostaria de ter o Romário
na seleção. Qual o treinador que não gostaria
de ter o Romário no time?
TIMELEI:
O Romário é mesmo um jogador problemático?
Apolinho:
Dizem que o Romário tira e põe treinador, mas não
é. Romário é uma pessoa articulada e conhece
muito bem o que faz, então chega um treinador e fala para
ele fazer algo ele pergunta "por quê?". E se ele
não concordar, expõe o que ele acha que é
certo. Mas você sabendo disso e conhecendo os problemas
que ele tem de ordem física, você convive com ele
na boa. O Romário tem um problema sério de não
admitir publicamente as limitações físicas
que ele tem como atleta. Ele não é um atleta, ele
é um jogador de futebol. Você não pode dar
a mesma carga de esforço físico que você dá
para ele como você dá para o Edmundo. O Edmundo,
ao contrário do Romário, tem um organismo que pede
exercício físico, se ele não fizer fica louco,
fica irritado porque o exercício é onde ele queima
a energia dele. O Romário não pode fazer, não
que ele não queira. Se você falar pra ele que ele
não pode fazer isso ou aquilo, de certa forma você
ofende o cara, porque está revelando que ele tem deficiência,
então tem que ter muita habilidade para tratar disso.
TIMELEI:
Mas hoje o futebol e a medicina esportiva já evoluíram
muito nesses aspectos.
Apolinho:
Certamente. Antigamente você dava a mesma carga de exercício
físico para o goleiro e para o centroavante, então
alguém fazia exercício de mais e alguém fazia
de menos. Em um time você tem que saber trabalhar com as
individualidades. Eu tenho três filhos e não posso
criar os três da mesma forma, tenho que respeitar as individualidades
de cada um, e os temperamentos não são iguais.
TIMELEI:
E essa era uma característica sua como técnico:
"Estrela tem que ser tratada como estrela".
Apolinho:
Lógico. Por exemplo, eu já tenho minha sala, com
minha cadeira, etc. Mas eu já tenho quarenta anos de rádio.
O cara que está começando tem que ralar para conseguir
isso tudo. Fui conquistando meu espaço, hoje tenho um estúdio
dentro da minha casa, se eu não quiser vir eu não
venho. Tem dia que eu chego aqui seis horas da manhã e
só saio daqui meia-noite. Faço o programa da manhã,
preparo o meu programa, apresento o meu programa, depois vem a
jornada esportiva. Às vezes eu deito nessa cadeira (uma
bela e confortável cadeira reclinável) e durmo.
Tranco a porta e descanso um pouco. Eu faço rádio
porque gosto de rádio. Então chega um e pergunta
"Mas o Washington pode dormir?". Posso! A direção
da rádio também acha que sim e pronto. Então
você vai trabalhar com um grupo grande e heterogêneo
como um time de futebol. Ali todos são pessoas muito diferentes,
pessoas de todas as índoles e com vaidades muito grandes.
A função básica não é difícil,
falar que ser técnico é difícil é
conversa. Você não vê variações
táticas. O que o técnico tem que fazer é
administrar conflitos e vaidades.
TIMELEI:
Tem técnico que em concentração não
permite que o jogador saia, possui um horário rígido.
Você era assim?
Apolinho:
Não. Eu na minha época até reduzi o tempo
de concentração. O nosso time concentrava a partir
de oito horas. Quer dizer, a partir de oito horas da noite tinha
jantar, quem quisesse jantar, chegava às oito. Quem não
quisesse jantar, tinha que chegar às dez para lanchar.
Quem não quisesse lanchar tinha que chegar às dez
e meia para dormir. E eu acabei com o "Não pode sair,
não pode ir lá fora". O cara é casado
e tem uma garota que ele só pode ver naquela hora ali,
se você impedir ele fica maluco, briga, pula o muro para
falar com a garota. Eu prefiro que me diga "Washington, eu
estou com uma garota ali fora, vou tocar uma punheta e volto".
Pronto. Mas nada escondido senão ferra o grupo. Essa é
uma tática que você ganha a confiança deles.
O Evaristo (Evaristo Macedo, técnico do Vasco) trabalhou
comigo, o que ele está fazendo agora no Vasco de acabar
com a concentração, a gente ia fazer lá no
Flamengo.
TIMELEI:
Mas tem jogador que chega bêbado na concentração,
ou cansado de transar a noite toda?
Apolinho:
Não tive problemas com isso não. Quem faz isso,
faz mesmo! É claro que o time não vai fugir da concentração,
mas esse cara faz, então o que você tem que fazer?
São todos jovens. O cara que ganha mal, no Flamengo, ganha
40, 50 mil e geralmente vem de uma família muito pobre
que não tinha direito a nada e de repente tem direito a
tudo, mais a fama. Então, quando eu vou dormir às
oito e meia da noite, eu vou porque sou casado, tenho três
filhos, tenho que ver novela para poder falar mal depois, etc.
Mas se eu sou solteiro e ganho 40 paus por mês, eu vou pra
zona, não tenha nem dúvida que eu vou. E os meninos
têm direito de se divertir. Mas se tem um jogo domingo,
sábado você não pode sair e o grupo que tem
de policiar isso, não sou eu. Se ninguém for e o
cara chegar sair sozinho e chegar bêbado de manhã,
tudo bem, ele não joga. Mas se o time perder, o grupo tem
que ver que o dinheiro que nós perdemos foi o cara que
ajudou a perder. Eu vendia essa idéia.
TIMELEI:
E sexo antes do jogo?
Apolinho:
O cara pode trepar em véspera de jogo? Trepar pode. O que
não pode é jogar a mulher para o alto e parar ela
na pica, fazer globo da morte, dar salto triplo de costas. Mas
trepar pode, só estou aqui dando entrevista para você
agora porque alguém trepou.
TIMELEI:
Nós entrevistamos o Caio (Caio, atacante do Fluminense,
veja sua entrevista aqui) e ele afirma
que acredita e pratica sexo à primeira vista. Disse que
é espada e matador. O Caio tem essa bola toda mesmo ou
é só bravata?
Apolinho:
Eu trabalhei com Caio na época de treinador, e posso afirmar
que o Caio era muito requisitado. Nós chegávamos
para jogar nas cidades aí fora e ele era difícil
de segurar. O Caio conseguiu algo incrível porque ele era
ídolo sendo reserva.
TIMELEI:
E você acredita em sexo á primeira vista?
Apolinho:
Mas é claro! Sem dúvida, se a mulher for boa nem
precisa ser à primeira vista, meia vista está valendo.
TIMELEI:
Mas a vista continua boa?
Apolinho:
Claro que está (respondeu dando uma ajeitada nos óculos).
Eu sou matador. Eu e o Robertão. Ele faz no mesmo estilo
da novela (O Clone) que cada um pode ter cinco mulheres. Ele quer
também.
TIMELEI:
Conta uma história engraçada de algum fato da sua
carreira para os nossos leitores.
Apolinho:
Estávamos perto da copa de 70 e eu participava de uma mesa
redonda na TV Rio, e tinha um gaúcho que era contestador.
E a copa de 66 ficou marcada pela decepção, porque
tinha vários jogadores de ponta que se consagrariam campeões
do mundo em 70. Eu defendia a convocação do Gérson
(ponta esquerda da seleção de 70) e esse gaúcho
dizia que não, porque o Gérson tinha amarelado em
66. Eu estava colocando o meu ponto de vista e o Luiz Mendes,
que comandava a mesa, fez sinal que estava acabando o programa.
Naquele dia também iria um deputado que tinha um projeto
para melhorar o trânsito. Ele trouxe um tubo com as plantas
da cidade do Rio de Janeiro e o projeto que ele explicaria assim
que nosso tempo terminasse. Foi quando esse gaúcho falou
"Ah, você é viúva do Gerson". O
programa ia terminar com ele me dando esse esporro. No que eu
ia replicar, o Mendes falou que não tinha mais tempo. Eu
não tinha o que fazer e louco porque ia perder a discussão,
peguei o tubo e dei uma "tubada" na cabeça dele,
no ar. Pior que o tubo abriu, as plantas voaram e o deputado entrou
para pegá-las. O programa acabou parecendo o Circo do Carequinha.