Entrevista: DERCY GONÇALVES

De vendedora ambulante de perfumes à Grande Dama do Teatro Nacional, Dercy Gonçalves é a avó que todo mundo gostaria de ter: fala palavrão, se diz professora de sexo, é engraçada e, ao contrário dos Timeleis, mete o cacete em todo mundo.

TIMELEI: Dercy, o segredo para se viver muito é o chopinho no final do dia?
Dercy: Na verdade não existe mistério. Não existe velhice, existe idade. Veja o Sargenteli, morreu jovem. Mas eu não morreria no lugar dele.
TIMELEI: E por que não?
Dercy: Eu só morro quando eu quiser. Porque eu acho que o médico não pode saber melhor do que eu o que estou sentindo. Eu chego lá e digo que estou sentindo dor em um certo lugar e ele já vem me dizendo o que é.

Agora, uma parada cardíaca você pode ter a qualquer hora. Eu já comecei a ter paradas há muito tempo. Mas quando ela vem, eu faço ela andar através do meu método caipira: tomar muita água e um pouquinho de açúcar e sal.
TIMELEI: E como foi sair de casa tão cedo?
Dercy: Fugi de casa com 16 anos. Naquela época eu não sabia o que era sexo, país, cultura. Eu não tive escola. O motivo eu não sei, eu fui empurrada para a vida. Bati numa porta e acertei, mas se você bater em 3 portas, uma se abre. Houve uma época em que eu fui vender perfume. Botava os nomes, fazia a essência...
TIMELEI: E eram bons os seus perfumes?
Dercy: Sei lá. Eram perfumes que eu comprava na rua da alfândega. Eu dizia que era bom e acreditavam.
TIMELEI: E de onde vem esse seu humor todo?
Dercy: O humor ninguém tem, o humor você é. Ele é uma coisa, ser cômica é outra. Eu sou cômica, não humorista. Eu estudei a graça durante muito tempo no teatro. Foi um tempo lindo.
TIMELEI: E como foi a sua primeira vez?
Dercy: Tive meu primeiro namorado aos 13 anos. Sentia por ele um amor de pai, de proteção. Eu era menina sozinha, esse era um amor segurança. Minha primeira vez foi com 16 anos. Ele transou comigo, me sangrou, me machucou e eu protestei, fui parar na polícia. Achei uma perversão. Quando depois me explicaram, eu fui entendendo, entendo e hoje eu sou professora de sexo.
TIMELEI: Mas Dercy, alguma vez na sua vida você já teve a sorte de ter tido sexo à primeira vista?
Dercy: Isso não existia. Isso era puta que fazia. Esse tipo de coisa não podia existir. Eu fui noiva sem ter beijado na boca. Era uma coisa muito delicada para você dormir, beijar, trepar, meter a mão.
TIMELEI: As pessoas param na rua pedindo para você dizer palavrão?
Dercy: É verdade. Dercy me fala um palavrão, aí eu mando eles tomarem no cu e eles morrem de rir. Eu não tenho constrangimento nenhum da palavra. Eu falo porque sei que provoco graça, eu não mando ninguém se fuder a valer. Mas na brincadeira vale tudo. Acho que isso não tem mal nenhum.
TIMELEI: Você construiu o seu túmulo lá em Madalena. Isso não dá azar não?
Dercy: Se tivesse que dar, já teria dado porque ele já existe há dez anos. O cemitério de Madalena fedia a mijo e eu não queria ficar ali. Foi então que o prefeito me cedeu um espaço grande. Construí em forma de pirâmide, todo em mármore. Tem uma energia tremenda lá dentro.
TIMELEI: E essa história de posar nua?
Dercy: Eu me sinto bem, sinto orgulho. Não tem no mundo uma mulher de 90 anos convidada para posar. Não é esse nu que vocês estão acostumados a ver escrachado, nojento, é um nu artístico. Acho lindo. Vou posar sexy em cima do túmulo lá em Madalena. Mas o que me deixou mais à vontade é que a revista é boa.
TIMELEI: (satirizando) Pois é, as entrevistas são muito boas...Mas, Dercy, quem é o homem mais bonito do Brasil?
Dercy: Eu não fico ligando para isso não, até porque hoje todo mundo tem tudo postiço. Eu mesma tenho 90 plásticas, puxei de um lado, mexi de outro. Mas o homem que se preocupa com a beleza física vira viado. Hoje em dia você tem viados lindíssimos...
TIMELEI: (risos) Dercy, você disse que fez 90 plásticas, deve ter muito coroa dando em cima de você, não?
Dercy: Isso é bobagem. Não existe, ninguém se atreve. Acho que eles têm respeito. E ninguém dá em cima do outro sem ter intimidade.
TIMELEI: E como foi ser homenageada pela Viradouro?
Dercy: Eles vieram aqui e eu disse que não valia contar a história da minha vida. Mas achei lindo o desfile, os carros, os trenzinhos de madalena.
TIMELEI: Então foi por isso que você colocou os seios de fora?
Dercy: A culpa foi deles. Fizeram uma roupa para mim que não segurava. Eu me mexia e a roupa caía. Aí eu pensei que já que era assim, ia deixar logo tudo de fora. Mas não vi nada demais. O seio não é feio como os instrumentos de baixo. O do homem é feio e o da mulher mais ainda, por isso que é escondido no meio das pernas, e Deus ainda colocou cabelo para tapar.