Os
inventores do humorismo verdade e jornalismo mentira nos receberam
em sua bela sede, no bairro de Ipanema. Durante a entrevista, que
durou cerca de uma hora, tentamos obter desses artistas de sucesso
os segredos do humor, fama e mulheres. Mas sentimos informar que
ficaremos devendo as revelações sobre o sexo oposto
para quando entrevistarmos um cara pegador, tipo o Wando.
TIMELEI:
Como começou a coisa toda?
C&P:
A gente começou do zero mesmo, de baixo. Foi um troço
pequeno que foi crescendo. Mas casseta é assim: começa
pequena até ir se avolumando, crescendo...
TIMELEI:
E a primeira publicação?
C&P:
Nossa primeira publicação teve 100 cópias
e dado ao sucesso, a gente começou a tirar cópias
extras. Isso foi em 1978, quando levamos o jornal para o encontro
nacional dos estudantes de engenharia. Mas é claro que
lá ia fazer sucesso: era o encontro nacional dos estudantes
de engenharia, qualquer porra era engraçada, só
tinha homem e punheteiro.
Naquela época a gente fazia fotolito, mas as gráficas
se recusavam a rodar, porque era 1978 e ainda estávamos
sob o regime militar.
Certa vez, na gráfica do Jornal Fluminense, eles rodaram
e jornal e, quando viram o que era, nos chamaram e falaram para
levar aquela porra de lá, sem pagar mesmo. Eles só
queriam que a gente sumisse. Cansamos de imprimir o jornal de
graça por causa disso.
TIMELEI:
E a grana para lançar o jornal?
C&P:
Como o Cláudio era da PUC a gente conseguiu um esquema
de facilitação financeira parar imprimir e lançar
o jornal lá. Pusemos até bandinha tocando, maior
horror. Aluno fazendo prova e a banda tocando. Foi quando veio
o reitor reclamar e o Bussunda mandou o cara se fuder. Afinal,
já que não estudava naquela porra mesmo, ele não
tinha que obedecer.
TIMELEI:
A partir daí começaram a ficar ricos?
C&P:
Que
nada! Para começarmos a viver de humor foram 10 anos. Só
aconteceu em 1988, quando passamos a escrever para o TV Pirata.
Isso era um hobby que cada vez mais foi ocupando espaço
e virou profissão.
TIMELEI:
Aqui na pauta tem uma pergunta sobre o processo criativo, mas
é uma questão meio imbecil, não?
C&P:
Com certeza! Odiamos quando chegam aqueles jornalistas não
pautados, um bando de imbecis que cismam em perguntar "como
é o processo de criação". Respondemos
que a primeira coisa que a gente faz para criar é comer
cu de jornalista (risos). Mas falando sério, as pessoas
vêem a coisa artística como um insight, o que não
é verdade. Você tem que chegar todo o dia e fazer,
cumprir tarefa mesmo. A indústria cultural caga na sua
cabeça, ela não quer saber se você está
mal ou não, quer apenas os resultados.
TIMELEI:
Às vezes a gente trava uma piada por medo de tomarmos processo
nas costas, até porque tomar qualquer coisa nas costas
é perigoso. Ninguém nunca travou vocês assim?
C&P:
O que não se faz é chegar e falar que fulano
é viado à toa. Você não está
inventado a notícia, está na verdade fazendo um
cartoon dela.
Agora em se tratando de humor corre-se sempre o risco de estar
ofendendo alguém. E acontece às vezes coincidências
infelizes. Tinha uma época que estava tendo muito problema
de bala perdida no Rio de Janeiro, então fizemos umas piadas
e colocamos no programa. Num puta azar, naquele dia, às
18 da tarde, uma criança morreu no Grajaú por bala
perdida. Não tinha como tirar isso do programa.
No caso dos gaúchos, por exemplo, ficamos falando que todo
gaúcho é viado, queima rosca e etc. Então
toda vez que encontramos gaúchos na rua eles perguntam
quando é que a gente vai parar de chamá-los de viados.
A gente diz: quando vocês pararem de dar a bunda.
TIMELEI:
E sexo à primeira vista, vocês acreditam?
C&P:
Eu conheço o sexo à vista. Que pergunta meio
viada, os caras se chamam TIMELEI e vêm perguntar isso para
a gente (risos)! Mas, sério, as mulheres falam que não
pode misturar sexo com amor. Na verdade sexo com amor é
sensacional E sexo sem amor é sensacional também.
Uma foda é boa com quem se ama e é boa com quem
não se ama também.
TIMELEI:
Falando em comer, vocês afirmam que são casados e
o cacete, mas e a mulherada por aí? Essas vocês comem...
C&P:
A gente não come nem quem a gente tem que comer direito.
Nós somos a favor do divirta-se com o pau mole. Sexo é
uma coisa muito estressante.
Mas é o seguinte, se tem uma loira maravilhosa na esquina
e um anônimo como você dá um lance, tem 98%
de chance dela chamar a polícia. Hoje se a gente der um
lance, tem bastante chance da loira dar mole. Mas tem que pensar
porque que essa mulher gostosa está dando em cima de mim.
Opção "a", eu virei o Brad Pitt. Opção
"b", ela me acha lindo, gostoso. Opção
"c", ela é uma puta de uma 171 e quer me ferrar.
Mulher
gosta de cartão de crédito, quem gosta de piroca
é viado.
TIMELEI:
Mas sendo famoso assim nem precisa mandar bem...
C&P:
Na verdade você tem que ser como o Márcio Garcia,
que chegou no lugar certo, na hora certa. Eu quero até
ir ao Raul Gil para tirar o meu chapéu para ele. É
o tipo do cara que você pergunta quem do cenário
nacional ele já pegou e a resposta vem na forma de outra
pergunta: "Você quer a lista por nome ou categoria?".
Isso deprime qualquer um.
TIMELEI:
Como é que vocês vêem o humor de hoje no Brasil?
C&P:
Com certeza o que vocês fazem hoje é mais interessante
do que Bundas. São uns caras que eu admiro e tal, mas acho
que ficaram para trás. Todos nós somos influenciados
por alguém: Jaguar, Pasquim, Monty Python. Aliás,
o mundo é dividido em quem gosta e quem não gosta
de Monty Python. Até hoje quando estamos meio sem inspiração,
pegamos uma fita deles e ficamos olhando. Aquilo revigora. O legal
é você montar uma coisa com identidade própria.
O humor é que nem ginástica, quanto mais você
faz, mais em forma fica.
TIMELEI:
Sucesso nacional, programa com 34 pontos de audiência, site
vencedor do i-best. Qual o próximo passo? O filme vai sair?
C&P:
Tem que sair. A gente acabou o roteiro finalmente. Já estamos
na fase de captação de recursos e acho que vai ficar
muito legal. Devemos lançar em julho de 2003.