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Entrevista:
PEDRO BIAL
Jornalista
famoso, apresentador do BBB, intelectual, poeta e garanhão.
Na verdade, Pedro Bial é muito mais gente fina do que qualquer
um de nós da redação do Timelei. Ele nos concedeu
essa entrevista num bar localizado no Jardim Botânico. Contou
sobre carreira, sucesso e barangagem. Não necessariamente
nessa mesma ordem. Mas o importante é ressaltar que ele pagou
toda a cerveja consumida pelos nossos intrépidos repórteres. |
Timelei!-
Até que ponto o diploma em jornalismo é necessário
para exercer a profissão? |
Bial-
Existe uma discussão técnica a respeito da obrigatoriedade
do diploma e eu preciso estar mais bem informado para dar uma
opinião. Mas, sem querer sair da reta, não acho
que o sujeito precise de um diploma de jornalista para ser jornalista.
É bom que ele tenha uma formação de nível
superior, mas não necessariamente de jornalismo. Mas
por melhor que seja a faculdade é a disposição
individual do aluno que faz o curso.
Certa
prática de trabalho o aluno poderia ter ensaiado dentro
da faculdade antes de ir para o mercado de trabalho. O ruim
é que muitas vezes os alunos só imitam o que faz
uma TV Globo ou Record. E a faculdade é um lugar legal
para uma coisa experimental, para que esse sujeito entre no
mercado de trabalho como elemento progressista, transformador,
e que não seja uma cabeça conformista. Esses
jovens profissionais que estão chegando ao mercado de
trabalho estão muito caretas. Fica se reproduzido um
modelo e não se vê fogo de inovação.
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T!-
Como foi a sua amizade com o Cazuza e a juventude de vocês?
Você tinha alguma pretensão em ser músico
também? |
Bial-
Eu e Cazuza éramos amigos de infância. Estudamos
no jardim de infância, no primário e no científico
juntos. Depois ainda nos encontramos na faculdade. Éramos
muito amigos e o que a gente fazia na adolescência era cantar.
Ambos bêbados à noite, alguém com um violão
e todos cantando Blues. Já tacaram ovo na gente pela
janela. Mas profissional nunca fui. Coisa de boemia dos anos setenta.
A
gente lia muito e escrevia. Mas o cazuza nunca foi de ficar
mostrando os poemas para todos. O negócio dele era desenhar.
Ele desenhava mapas de países imaginários e mulheres.
Desenhava mulheres que a turma toda fazia fila para pegar e
tocar punheta porque eram mulheres incríveis (faz a maior
cara de tarado enquanto fala). Mas ele não era muito
de escrever poemas não, era mais de viver intensamente.
Eu, por outro lado, sempre gostei.
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T!-
Fala sério, você escrevia esses poemas pegar mulher. |
Bial-
Era uma vontade minha, eu escrevia e mostrava para professora.
Mas é claro também fazia isso para pegar mulher.
O primeiro objetivo de todo poema é pegar mulher. |
T!-
Então você é tricolor e poeta desde criança.
A rapaziada não encarnava de você ser meio boiola? |
Bial-
(rindo) Eu não sei que associação você
está fazendo em ser tricolor e boiolismo. Tem isso não,
eu sou espadão. Pelo contrário, eu me sentia meio
superior. Aquela coisa de pré-adolescente e adolescente.
Eu descobri o Drummond com nove anos de idade e me senti o
máximo de estar lendo e entendendo algo que os outros ainda
não liam. Eu achava bacana. É o velho negócio
dos duelos das inteligências que não quer dizer nada.
Éramos
três amigos mais próximos: eu, cazuza e o Ricardo.
E o Ricardo era mais inteligente do que eu e o cazuza juntos.
Nós éramos escravizados pela inteligência
dele e o Ricardo não deu em nada. O Cazuza foi o
Cazuza, eu mal o bem estou aí construindo a minha vida
e o cara dançou no meio do caminho. Talvez ele não
fosse tão inteligente assim, porque eu não acredito
mais nessa inteligência que não se traduz em uma
vida melhor para o possuidor da inteligência. Essa
coisa tipo Proust, uma vida de merda e uma obra maravilhosa.
Eu acho isso um saco.
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T!-
Depois de "Outras Histórias" e "Os Nomes
do Rosa", você não pensa em adaptar e dirigir
alguma outra obra literária? |
Bial-
Eu queria adaptar Campos de Carvalho. Vocês que estão
fazendo humor têm que conhecer. Ele é um gênio
da literatura brasileira, que não é lido, não
é conhecido. É maravilhoso. Só que eu
me fudi muito com as outras adaptações, me quebrei,
coloquei todo o meu dinheiro, emocionalmente tive custos altíssimos.
Não me arrependo das produções, mas elas
têm uns erros.
Além
disso, pintou uma coisa bacana para mim que é fazer um
filme sobre Chacrinha. O irmão do chacrinha procurou
o Daniel Filho na Globo Filmes que querendo fazer um curta.
Depois de muito papo decidiram fazer um longa e me convidaram
para dirigir o filme. Eu acho que tem mais a ver fazer esse
antes de adaptar Campos de Carvalho. É um filme sobre
televisão, de um cara absolutamente revolucionário
e é minha área também porque eu sou um
bicho de televisão. É uma dádiva esse projeto.
E a melhor parte de tudo é que eu não vou produzir.
Não quero produzir mais nada em minha vida. Se quiser
que eu escreva, eu escrevo. Dirigir? Sem problema. Mas produzir
não é a minha.
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T!-
Você é quase um Forrest Gump para nós. Você
estava presente em quase todos os fatos mundialmente marcantes
de nossa época. |
Bial-
Foi incrível. Isso é de uma beleza, porque eu sou
filho de judeu alemão com mãe luterana, filha de
comunista. Os dois corridos da Alemanha. Eu nasci aqui e vou para
lá contar essa história que termina a história
deles. Viver em Londres é o máximo, você
está exposto a tudo que é corrente de pensamento.
Se você tiver o mínimo de curiosidade, tem tudo na
mão. E nem precisa de muito dinheiro, tem uma Londres cultural
que é fantástica. |
T!-
Você pensa em voltar a ser correspondente internacional?
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Bial-
Eu penso. Eu tenho uma idéia só que não sei
se a Globo vai comprar. Eu gostaria de em 2006 ir para a china
e ficar morando lá até as olimpíadas de 2008.
A China é o lugar onde tudo está acontecendo.
O Século XXI começou lá, o lugar está
bombando e, aqui no Brasil, a Ásia não faz parte
do nosso mapa mental. Sendo que eles são a alternativa
ao "império americano".
Os
Estados Unidos são uma democracia doméstica admirável,
mas como todo império acabam sendo internacionalmente
mais tirânicos. Já a china, não tem nada
de democracia internamente, mas por ter uma presença
gigante ela está exigindo uma democratização
das relações internacionais. Então esse
paradoxo é interessantíssimo. Além do
mais, foi muito diferente a maneira como a China reformulou
o seu comunismo. Hoje em dia, nenhum estrangeiro faz o negócio
na China sem o chinês.
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