Entrevista: PEDRO BIAL
Jornalista famoso, apresentador do BBB, intelectual, poeta e garanhão. Na verdade, Pedro Bial é muito mais gente fina do que qualquer um de nós da redação do Timelei. Ele nos concedeu essa entrevista num bar localizado no Jardim Botânico. Contou sobre carreira, sucesso e barangagem. Não necessariamente nessa mesma ordem. Mas o importante é ressaltar que ele pagou toda a cerveja consumida pelos nossos intrépidos repórteres.

T!- Você foi repórter durante anos, hoje está mais na função de apresentador. Como é que fica essa relação?
Bial- Foi legal ter aprendido essa linguagem de apresentador. Não foi o Fantástico e sim o Big Brother a minha grande viagem de apresentação. O Fantástico é um modelo engessado. O jornalismo é muito controlado, você tem muito pouco tempo para dizer a coisa e não dá para ser coloquial ou espontâneo.  
"Eu adoro as mulheres feias. Adoro procurar a beleza dentro de uma mulher feia."
T!- Não duvidando da sua capacidade, mas às vezes você não precisa enrolar um debate no Espaço Aberto (programa apresentado no canal Globonews, da NET) por não ter lido o livro do entrevistado?
Bial- Quando eu não tenho tempo para ler o livro, não deixo para enrolar na hora. Eu enrolo antes. No jornalismo existem alguns macetes e técnicas que mesmo que você não tenha lido o livro, com uma leitura atravessada, uma orelha ali e coisa e tal, você se sai bem. Honestamente, na média oitenta por cento dos livros eu li. Um livro pelo menos. E eu sempre deixo para terminar a leitura na noite anterior, para ter o bichinho fresco na minha mente.

Aliás, isso me deu um péssimo habito de ler até o final livro chato. Acho que a liberdade do leitor é largar o livro quando está achando chato e eu tenho uma dificuldade enorme de fazer isso.



T!- Como você aliviava a falta de sexo que rola durante a cobertura de guerras?
Bial- Desculpem o meu francês, mas guerra é a maior fodelança. Qualquer situação de guerra é altamente libidinosa. Eu tenho uma teoria: quando o ser humano é cercado pela morte, a vontade de vida explode. Eu fiquei vinte dias em Sarajevo, e durante o cerco o que as pessoas faziam era fumar maconha e trepar.
T!- Então você já apresentou notícias de pau duro?
Bial- Não (risos), eu não comi ninguém, eu não estava enturmado com o pessoal de Sarajevo. Estou falando como repórter. Mas é claro que entre repórteres rola namoros. Porque o pessoal que cobre guerras é especializado nisso. Então o cara faz uma revolução aqui, uma guerra ali e você encontra os mesmos profissionais. E o cara não tem vida pessoal, mas tem que ter vida sexual, então todo mundo come todo mundo.
T!- As coberturas mais difíceis são as de guerras?
Bial- Engraçado, a cobertura onde senti mais dificuldade de me recuperar foi uma de terremoto e não as de guerra. Eu não peguei o grande terremoto de Kobi no Japão, mas peguei os "aftershocks" e você só via morte, morte, morte. Presunto, presunto presunto. O papel de um jornalista brasileiro lá é procurar quantos brasileiros morreram, então era procurar defunto. E tem aquele cheiro de cadáver, o negócio era barra pesada.

Quando estava fazendo a última imagem, um viaduto que estava a cem metros de mim caiu por causa de um "aftershock". Caramba, fiquei tão abalado que fui para o Hotel Hilton, pedi o melhor apartamento com todo o serviço de quarto possível e uma massagem. Eu pensando que ia ver uma bela japonesa, mas apareceu uma baixinha, arretada, com uns sessenta anos de idade que fez o shiatsu mais dolorido que eu já vi na vida. O shiatsu daqui é brincadeira, No shiatsu japonês o cara enfia o dedo mesmo.

Eu voltei mas de vez em quando eu tenho alguns pesadelos com isso.

T!- Com a japonesa que enfia o dedo?
Bial- (Risos)

T!- As mulheres devem procurar "o Pedro Bial do Fantástico" e não "o Pedro Bial".

Bial- Pois é. Essas mulheres deviam é procurar o meu irmão (Alberto Bial). Ele uma vez comeu uma mulher que pensava que ele era o Pedro Bial.
T!- Você já escreveu crônicas de todos os tipos e fala que perde o amigo, mas não perde a piada. Você nunca fez texto de humor?
Bial- Eu procurava dar um tom de humor nas minhas reportagens quando era correspondente, e até hoje um pouco. Mas acho que naquela época, como eu morava na Inglaterra, era um humor um pouco britânico demais, não ficava tão evidente.

Eu acho muito difícil fazer humor profissionalmente. Eu falo minhas merdas no dia-a-dia. Eu tento escrever mas quando sai o humor, ele sai timidamente. Eu fui criado no meio artístico, o meu pai era de teatro e ele sempre falava que o mais difícil é fazer comédia. Porque comédia você tem que fazer muito a sério.

T!- Qual é a grande diferença entre o humor britânico e o humor brasileiro?
Bial- O humor britânico é maravilhoso. Monty Python é demais. Aqui no Brasil a imagem do inglês é da pessoa posuda, mas na verdade ele é um cara sacana que tem como grande virtude o deboche de si mesmo. Eles estão se sacaneando o tempo todo, mas nós colonizados ficamos os colocando em um patamar, que o inglês é isso e aquilo. Nada! O cara é um sacana com um senso de humor apuradíssimo.

Eu lembro que fiquei dois anos com uma bronca da Inglaterra porque não entendia o humor deles. Assim como eles não entendem o nosso. O que os ingleses mais valorizam é o sujeito que consegue disfarçar as suas emoções e o que nós mais valorizamos é o sujeito que faz das suas emoções um espetáculo. Talvez isso tenha uma correspondência no humor. Quando o inglês sugere o brasileiro quer escancarar.

Mas o humor brasileiro é da pesada também. O Chico Anysio é um gênio. O último "Os Normais" que eu vi me fez passar mal de tanto rir.

T!- Qual é o tipo de mulher que o Bial gosta?
Bial- Eu adoro as mulheres feias. Adoro procurar a beleza dentro de uma mulher feia. Um dos primeiros poemas que eu escrevi foi para a professora Eliane de português. A turma odiava ela, mas eu a adorava e vice-versa. Isso no tempo de primário.

Vinte cinco anos depois, eu com quase trinta anos, me recuperando de uma operação no joelho, fui em uma academia fazer fisioterapia e quem eu encontro? Professora Eliane. Mais jovem que quando era a minha professora. Um corpão, toda linda, maravilhosa. Eu fiquei chapado. Viu? Ela era bonita, eu estava antecedendo.

Mas as mulheres bonitas em geral são muito chatas. A maioria trepa mal porque se levam a sério. A mulher mais comum é muito melhor. Ainda que mais que existe o enorme perigo de broxar com uma mulher bonita. Ela é muito monumental e acaba assustando, fica faltando um pouco de humanidade.

T!- Então podemos definir o Pedro Bial como barangueiro?
Bial- (pensa antes de responder e ri) Pode! Cara, a popularidade tem duas grandes vantagens que são arrumar mesa em restaurante cheio e comer gente. Porém, quando você se torna popular e pode comer gente, você não pode mais. A mulher vai contar para todo mundo, vão te encher o saco, vem revista atrás. Então você pode mas não pode. E no meu caso a popularidade veio quando eu já não estava mais interessado em comer todo mundo. Eu fui muito fogoso quando era moleque, adolescente na década de setenta. Uma liberdade sexual absurda, não tinha AIDS.



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