T!-
Você foi repórter durante anos, hoje está
mais na função de apresentador. Como é que
fica essa relação? |
Bial-
Foi legal ter aprendido essa linguagem de apresentador. Não
foi o Fantástico e sim o Big Brother a minha grande viagem
de apresentação. O Fantástico é
um modelo engessado. O jornalismo é muito controlado, você
tem muito pouco tempo para dizer a coisa e não dá
para ser coloquial ou espontâneo. |
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"Eu
adoro as mulheres feias. Adoro procurar a beleza dentro de uma
mulher feia."
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T!-
Não duvidando da sua capacidade, mas às vezes você
não precisa enrolar um debate no Espaço Aberto (programa
apresentado no canal Globonews, da NET) por não ter lido
o livro do entrevistado? |
Bial-
Quando eu não tenho tempo para ler o livro, não
deixo para enrolar na hora. Eu enrolo antes. No jornalismo existem
alguns macetes e técnicas que mesmo que você não
tenha lido o livro, com uma leitura atravessada, uma orelha ali
e coisa e tal, você se sai bem. Honestamente, na média
oitenta por cento dos livros eu li. Um livro pelo menos. E eu
sempre deixo para terminar a leitura na noite anterior, para ter
o bichinho fresco na minha mente.
Aliás,
isso me deu um péssimo habito de ler até o final
livro chato. Acho que a liberdade do leitor é largar
o livro quando está achando chato e eu tenho uma dificuldade
enorme de fazer isso.
|
T!-
Como você aliviava a falta de sexo que rola durante a cobertura
de guerras? |
Bial-
Desculpem o meu francês, mas guerra é a maior
fodelança. Qualquer situação de guerra
é altamente libidinosa. Eu tenho uma teoria: quando o ser
humano é cercado pela morte, a vontade de vida explode.
Eu fiquei vinte dias em Sarajevo, e durante o cerco o que as
pessoas faziam era fumar maconha e trepar. |
T!-
Então você já apresentou notícias de
pau duro? |
Bial-
Não (risos), eu não comi ninguém, eu não
estava enturmado com o pessoal de Sarajevo. Estou falando como
repórter. Mas é claro que entre repórteres
rola namoros. Porque o pessoal que cobre guerras é especializado
nisso. Então o cara faz uma revolução
aqui, uma guerra ali e você encontra os mesmos profissionais.
E o cara não tem vida pessoal, mas tem que ter vida sexual,
então todo mundo come todo mundo.
|
T!-
As coberturas mais difíceis são as de guerras? |
Bial-
Engraçado, a cobertura onde senti mais dificuldade de me
recuperar foi uma de terremoto e não as de guerra. Eu não
peguei o grande terremoto de Kobi no Japão, mas peguei
os "aftershocks" e você só via morte, morte,
morte. Presunto, presunto presunto. O papel de um jornalista
brasileiro lá é procurar quantos brasileiros morreram,
então era procurar defunto. E tem aquele cheiro de cadáver,
o negócio era barra pesada.
Quando
estava fazendo a última imagem, um viaduto que estava
a cem metros de mim caiu por causa de um "aftershock".
Caramba, fiquei tão abalado que fui para o Hotel Hilton,
pedi o melhor apartamento com todo o serviço de quarto
possível e uma massagem. Eu pensando que ia ver uma
bela japonesa, mas apareceu uma baixinha, arretada, com uns
sessenta anos de idade que fez o shiatsu mais dolorido que eu
já vi na vida. O shiatsu daqui é brincadeira,
No shiatsu japonês o cara enfia o dedo mesmo.
Eu
voltei mas de vez em quando eu tenho alguns pesadelos com isso.
|
T!-
Com a japonesa que enfia o dedo? |
Bial-
(Risos) |
T!-
As mulheres devem procurar "o Pedro Bial do Fantástico"
e não "o Pedro Bial".
|
Bial-
Pois é. Essas mulheres deviam é procurar o meu irmão
(Alberto Bial). Ele uma vez comeu uma mulher que pensava que
ele era o Pedro Bial. |
T!-
Você já escreveu crônicas de todos os tipos
e fala que perde o amigo, mas não perde a piada. Você
nunca fez texto de humor? |
Bial-
Eu procurava dar um tom de humor nas minhas reportagens quando
era correspondente, e até hoje um pouco. Mas acho que naquela
época, como eu morava na Inglaterra, era um humor um pouco
britânico demais, não ficava tão evidente.
Eu
acho muito difícil fazer humor profissionalmente. Eu
falo minhas merdas no dia-a-dia. Eu tento escrever mas quando
sai o humor, ele sai timidamente. Eu fui criado no meio artístico,
o meu pai era de teatro e ele sempre falava que o mais difícil
é fazer comédia. Porque comédia você
tem que fazer muito a sério.
|
T!-
Qual é a grande diferença entre o humor britânico
e o humor brasileiro? |
Bial-
O humor britânico é maravilhoso. Monty Python é
demais. Aqui no Brasil a imagem do inglês é da pessoa
posuda, mas na verdade ele é um cara sacana que tem como
grande virtude o deboche de si mesmo. Eles estão se
sacaneando o tempo todo, mas nós colonizados ficamos os
colocando em um patamar, que o inglês é isso e aquilo.
Nada! O cara é um sacana com um senso de humor apuradíssimo.
Eu
lembro que fiquei dois anos com uma bronca da Inglaterra porque
não entendia o humor deles. Assim como eles não
entendem o nosso. O que os ingleses mais valorizam é
o sujeito que consegue disfarçar as suas emoções
e o que nós mais valorizamos é o sujeito que faz
das suas emoções um espetáculo. Talvez
isso tenha uma correspondência no humor. Quando o inglês
sugere o brasileiro quer escancarar.
Mas
o humor brasileiro é da pesada também. O Chico
Anysio é um gênio. O último "Os Normais"
que eu vi me fez passar mal de tanto rir.
|
T!-
Qual é o tipo de mulher que o Bial gosta? |
Bial-
Eu adoro as mulheres feias. Adoro procurar a beleza dentro
de uma mulher feia. Um dos primeiros poemas que eu escrevi
foi para a professora Eliane de português. A turma odiava
ela, mas eu a adorava e vice-versa. Isso no tempo de primário.
Vinte
cinco anos depois, eu com quase trinta anos, me recuperando
de uma operação no joelho, fui em uma academia
fazer fisioterapia e quem eu encontro? Professora Eliane. Mais
jovem que quando era a minha professora. Um corpão, toda
linda, maravilhosa. Eu fiquei chapado. Viu? Ela era bonita,
eu estava antecedendo.
Mas
as mulheres bonitas em geral são muito chatas. A maioria
trepa mal porque se levam a sério. A mulher mais comum
é muito melhor. Ainda que mais que existe o enorme
perigo de broxar com uma mulher bonita. Ela é muito monumental
e acaba assustando, fica faltando um pouco de humanidade.
|
T!-
Então podemos definir o Pedro Bial como barangueiro? |
Bial-
(pensa antes de responder e ri) Pode! Cara, a popularidade tem
duas grandes vantagens que são arrumar mesa em restaurante
cheio e comer gente. Porém, quando você se torna
popular e pode comer gente, você não pode mais. A
mulher vai contar para todo mundo, vão te encher o saco,
vem revista atrás. Então você pode mas não
pode. E no meu caso a popularidade veio quando eu já não
estava mais interessado em comer todo mundo. Eu fui muito
fogoso quando era moleque, adolescente na década de setenta.
Uma liberdade sexual absurda, não tinha AIDS. |